Dia Internacional da Mulher - 2022
O dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher, recorda as conquistas das mulheres que, ao longo da história, lutaram pelos seus direitos fundamentais e contra estereótipos e preconceito.
Por um feminismo interseccional*
O dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher, recorda as conquistas das mulheres que, ao longo da história, lutaram pelos seus direitos fundamentais e contra estereótipos e preconceito.
A explicação deste dia relaciona-se com a própria luta das mulheres operárias por mais direitos laborais e melhores condições de vida nas fábricas e ao movimento sufragista que reivindicava o direito ao voto.
O 8 de março foi escolhido porque neste dia, em 1917, as mulheres russas exigiram melhores condições salariais e protestaram contra a miséria sentida pela classe operária. A manifestação reuniu mais de 90 mil operárias e ficou conhecida como "Pão e Paz". – “ Das Origens Socialistas do Dia Internacional da Mulher” - Kaplan, Temma (1985); “International Women’s Day timeline Journey” - International Women's Day.
Apesar de haver quem defenda uma suposta separação entre a luta de classes e as lutas identitárias, existe uma forte argumentação que defende que as políticas identitárias, como o feminismo, só poderão ser entendidas e bem-sucedidas dentro de um quadro anticapitalista.
Esta argumentação que aqui defendemos é radicalmente oposta ao feminismo de classes privilegiadas, onde persistem as estruturas patriarcais e as desigualdades face à restante população. Como refere Angela Davis, “O feminismo vai muito além da igualdade de género e implica muito mais do que somente o género. O feminismo deve incorporar uma consciência do capitalismo, […] do racismo, do colonialismo, das pós-colonialidades, das capacidades e de mais géneros do que aqueles que podemos chegar a imaginar e de mais sexualidades do que aquelas que alguma vez pensámos que podíamos nomear.” (https://feministas.pt/)
Isto significa que não existe um tipo de feminismo tamanho único, por exemplo, uma mulher negra, na sua vida quotidiana, enfrenta tanto o racismo como o sexismo, se for ainda de uma etnia minoritária ou de classe social baixa, as suas circunstâncias de vida serão ainda mais desfavoráveis.
Os movimentos e lutas sociais globais podem parecer desconectados, dispersos ou locais, contudo têm como causa comum o aumento da desigualdade económica e da privação de direitos sociais básicos, provocados pela crescente influência do neoliberalismo, in A Interseccionalidade e as novas lutas globais – “Outras Palavras” - Patricia Hill Colins e Sirma Bilge, 2021
As histórias específicas do feminismo, da privação de direitos associada ao racismo, homofobia, exploração de classes, colonialismo e subordinação de casta/étnica/religiosa que se moldam em contextos sociais específicos, não devem ser entendidas como eventos separados, mas, ao contrário, como interconectados.
A pandemia de Covid19 veio contribuir ainda mais para o aumento do fosso entre a minoria rica e a maioria pobre, sendo que o único movimento feminista que é válido para nós, é aquele que se opõe à nova ordem mundial neoliberal que tem por base um sistema capitalista global assente em relações desiguais de raça, género, sexualidade, idade, deficiência e cidadania.
Ao unir todas estas bandeiras, que têm em comum a defesa dos direitos humanos, evidencia-se a necessidade de olhar para estes problemas aparentemente dispersos, dentro de um mesmo contexto global que, do ponto de vista das causas e da sua perpetuação, não os distingue. Este contexto deve representar uma luta que seja levada a cabo de forma global e estruturante e, num tempo onde se começam a vislumbrar retrocessos face ao conseguido ao longo das últimas décadas, é essencial perceber que a luta de classes e as lutas identitárias são ambas, faces da mesma moeda.
Ouvir e incluir diferentes grupos de mulheres, nas suas múltiplas facetas e experiências de vida, nos debates em geral, é fundamental para a sociedade feminista inclusiva que reivindicamos.
Ser feminista é querer uma sociedade ecologista, antifascista, antirracista, democrática, inclusiva e participativa, com lugar e oportunidades iguais para todas as pessoas.
Neste 8 de Março continuamos a lutar por todos os direitos por conquistar e a combater o machismo e a desigualdade, porque sabemos que os direitos adquiridos não são garantidos e que a luta tem que ser feita todos os dias, em casa, no local de trabalho, e na rua!
*Intersecionalidade é um termo adotado pela professora norte-americana Kimberlé Crenshaw em 1989. “A visão de que as mulheres experimentam a opressão em configurações variadas e em diferentes graus de intensidade. Padrões culturais de opressão não só estão interligados, mas também estão unidos e influenciados pelos sistemas intersecionais da sociedade. Exemplos disso incluem: raça, gênero, classe, capacidades físicas/mentais e etnia.”
08/03/2022
Grupo de Trabalho para a Igualdade de Género do STSS
Clara Santos - Coordenadora
Célia Rodrigues
Céu Magalhães
Lucília Vicente
Luís Duarte
Marta Mesquita